segunda-feira, 16 de maio de 2011

Tu?! Quem és tu?

Ou Meu encontro com a lagarta e com o gato de Cheshire
Sou jornalista. Entendo de contar histórias reais para informar e educar.. Até que já tentei gostar de filosofia... mas, sinceramente, deixo para os filósofos. Acredito em tudo que essa ciência preceitua, mas não tenho o hábito nem consigo entender tão profundamente as verdades dela.
Mas entendi muita coisa de filosofia depois que vivi experiências que me fizeram refletir e, aí, me aparece um Nietzsche ou um Sartre e eu penso: “Puxa, esse cara é um gênio!” Mas, só consigo reconhecer essa profundidade, depois que o aprendizado vivencial me assola.
Heidegger é da mesma leva desses homens que falei – filósofos existencialistas – que tiveram como cerne do seu pensamento o homem... “bicho da terra tão pequeno”... Simples? Nem tanto. Porque é o homem e o sentido da e na própria existência... “a dificílima dangerosíssima viagem de si a si mesmo”.
Para Martin Heidegger, o que interessava era o sentido do ser. O homem tinha duas opções: estar no mundo e ser dominado pelas regras da massa ou romper com essa condição do cotidiano e tomar as rédeas da própria existência. Daí, a necessidade, para ele, da problematização desse estar-no-mundo, gerando a angústia libertadora para o encontro com o seu verdadeiro ser-aí.
Acontece que isso não é nada fácil para quem está imerso nas demandas do dia a dia. Mas eu tive o meu insight fenomenológico – aquele que surge para uma consciência. Foi numa tarde de domingo assistindo a um desenho animado, considerado infantil, e que muitos admiram pelos questionamentos que ele traz à luz da consciência. Para mim, Alice no País das Maravilhas me vale por dois momentos importantes no enredo da menina dos seus 7 anos de idade que se perde num submundo “onírico”; momentos esses que passei a considerar cruciais para quem quer dar um salto no caminho da própria existência.
O primeiro deles é o diálogo com a lagarta – quando pergunta à Alice “quem és tu?” Para mim, não pareceu uma simples curiosidade de saber a identidade da menina. A insistência do questionamento parece querer levar Alice a refletir sobre ela própria para responder a si mesma. É tanto, que a menina titubeia, gagueja, fica enfurecida, dá as costas à lagarta e volta ao mesmo problema – está perdida.
Depois de passar por mais situações estranhas, momentos de solidão e tristeza, aparece o gato de Cheshire, cantarolando, com aquele sorriso largo. É dele que Alice espera a resposta à pergunta: “Gostaria de saber que caminho tomar?” E o gato, simplesmente, responde: “Isso depende do lugar aonde quer ir!” A menina diz que não importa, afinal, ela estava perdida! E o mestre gato diz: “Então, não importa que caminho tomar...” Fantástico!!! Fenomenal!
Esse encontro, esse suspiro profundo, arrebatador, extasiante e de tirar o fôlego, foi para mim, e exclusivamente para mim, de significado fenomenológico – abriu as portas da minha consciência para uma verdade que se confirma a cada dia: preciso saber quem sou, mas não um saber para responder a outro e sim um saber de ter a consciência de quem sou para saber onde quero chegar, daí tomar o caminho mais apropriado. Será que foi por isso que Lewis Carroll, o autor da obra que inspirou a animação de Walt Disney, colocou esses diálogos exatamente nesta ordem: primeiro a lagarta incita Alice a responder quem ela é depois o gato indica que caminho pegar? E todos levam a reflexão sobre serem essas respostas que cabem, unicamente, à própria personagem.
Bem, só sei que, Alice saiu daquele mundo depois de se ver as voltas com uma rainha louca que era dona de tudo naquele mundo e que queria, a todo custo, cortar-lhe a cabeça porque foi afrontada pela menina. Veja bem – os existencialistas diziam que era rompendo com as tradições – eufemismo para regras impostas pela sociedade – que o homem encontraria-se com o seu verdadeiro eu, sem máscaras, sem amarras. E que a morte, o fim inevitável, destino de todos, seria a principal razão para querer viver... E é na iminência da “morte” que Alice reencontra o caminho de volta ao lar – ela acorda do sonho.

Um comentário:

Augusto Araujo disse...

Andreia, minha flor!

Que linda experiência! Que bela percepção!

Parabéns por ter retomado o blog.

Saudade de você e da família toda! Grande beijo procês.