quarta-feira, 18 de maio de 2011

Presente pra mim

Isadora: ...e sexta-feira é seu aniversáááriooo...
Eu: Eita, como é que tu sabe disso?
Isadora: Foi o papai que me contou. E eu vou dar um anel bem grande de brilhante com pedrinhas rosas pra vc.

Hahahaha... E ela conta isso com uma expressão no olhar... Os olhos arregalados dando a dimensão da beleza do tal anel. E Kaio disse que não falou nada com ela.

Já no supermercado, passando em frente a um manequim adulto com um vestido preto...
Isadora: Pai, é lindo né?
Kaio: É sim, filha.
Isadora: Pra dar de presente pra mamãe.

Hum... Nessa idade (3 anos), já tá induzindo verbalmente?! Às vezes, pra negociar, ela gesticula com as mãos na frente, abertas, com as palmas pra cima, e diz: "Olha só: e se..." ou "Acho melhor...". Já començando a praticar a diplomacia.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Encontro à moda antiga...

Decidiram, enfim, se encontrar. Fazia uns seis meses que eles se comunicavam pela Internet. Ele foi apresentado a ela por um amigo da irmã dela. Coisas dessas comunidades virtuais...
Ele aceitou o convite dela sem saber de quem se tratava. Janaína... Era só o que sabia, porque nem foto ela usava nas configurações do perfil. Nem ele. Ele... Nelson... Era o que Janaína sabia.
Tá, tudo bem, sabia dos gostos pessoais dele, nome completo, que era solteiro. O mesmo que Nelson sabia a respeito dela.
Então marcaram um encontro. Seria a primeira vez que eles conversariam cara a cara sobre tantas coisas que falavam na Internet.
Essa rede mundial de computadores!!!
Criaram coragem e decidiram ir a um ponto da cidade de gosto comum dos dois – o cinema do shopping. Escolheram o filme que ambos esperavam ver desde que tinha sido anunciada a estreia.
Tudo marcado, fechado, "prego batido em ponta virada"!
E, mesmo assim, não quiseram mandar a foto um para o outro! Ele pediu, muitas vezes, para ela enviar uma foto. Chegou a teclar com a irmã dela para conseguir uma imagem dessa garota que já rondava os sonhos dele – e sem rosto! Mas... Nada feito! A irmã era amiga fiel dela. E, Janaína, sonhadora e ansiosa, preferia suspirar com a imagem que fazia dele em sua mente.
Chega o dia. Ele passou o domingo planejando como chegaria a ela. Lembrou que combinaram de usar alguma coisa que os identificasse no local do encontro (e isso ainda existe?!?!?!). Nélson deixou acertado que usaria uma calça xadrez. E Janaína uma saia longa com um lenço amarrado na cintura. Tudo certo!

Faltava uma hora para o encontro e ele já estava lá, escorado na coluna que fica na entrada do cinema. Não perderia por nada nesse mundo a chegada dela. Janaína, mais ansiosa, chegara no shopping ao meio dia! Fez um lanche pequeno – o máximo que seu estômago permitiu diante da ansiedade que a dominava desde a sexta-feira.
Como gentil cavalheiro (que ainda sobrevive nesse mundo) comprou as entradas para a sessão das 17h45 – tempo suficiente para se reconhecerem, identificarem-se, cumprimentarem-se e conversar por, pelo menos, meia hora. De dez em dez minutos espiava o relógio. Comprou umas pastilhas para passar o tempo.
Faltavam vinte minutos para a hora marcada!

Janaína não suportava a hipótese de um chá de cadeira. Foi olhar as lojas - o que teria de novidade naquela lojinha de produtos esotéricos?
Assim, passou o tempo.
Janaína correu para o cinema. Quando estava subindo as escadas lembrou que não podia chegar esbaforida. Podia dar na cara! Ela perpassou o olhar pela multidão aglomerada para entrar na última sessão da tarde. Eis que avista a figura magricela e comprida escorada na pilastra perto da fila que entrava para a sessão das 17h... Com uma calça xadrez! E camisa abotoada até o pescoço, mangas arregaçadas até os cotovelos, cabelo zero e uma barbicha!... Sapatos mocassins de franjinha e pulseira de ouro! Não, ela não acreditava que o deus que visitava seus sonhos acordada se resumia àquela aparência.
De tão desapontada, caiu imóvel no sofá da entrada do cinema. Deu um suspiro e pensou que podia, depois, dar a desculpa de que não pode ir porque pegou uma gripe horrível, que ela havia se sentido mal desde a sexta e não disse nada porque não queria frustrar os planos dos dois.
Fazer, o que, né?! Decidiu não perder a saída e comprou a entrada para o filme da próxima sessão na sala 4.

Nélson já estava suando frio, quase tendo um infarto quando viu uma garota subir pela escada rolante... Linda, cabelos negros, longos e encaracolados vestida com uma saia longa e um lenço amarrado na cintura! Só podia ser ela. Ele ficou tão inebriado com a beleza daquela garota que congelou. Extasiado, mil coisas passavam pela mente. O que diria a ela – linda, maravilhosa! Quando pensava em tomar uma atitude as pernas grudavam no chão. Ele não merecia tudo aquilo. E ficou observando o jeito descomprometido dela olhar para a lista de filmes em cartaz. Não parecia que o esperava ansiosa... Decepcionado, permaneceu lá, imóvel. Depois ele enviaria uma mensagem dizendo que não pode ir porque ficou doente e que mandou um e-mail e torceu para que ela lesse a tempo. Ficou segurando o queixo, embevecido com a beleza dela, sentado na poltrona próxima a entrada das salas de exibição. A hora da sessão da sala 4 se aproximava. Nélson não quis perder as entradas... nem o dia. Um cineminha bem que podia melhorar o seu astral.

A fila se formava, pessoas e mais pessoas se avolumavam no hall do cinema para assistir o filme da sessão das 17h45. Era um trailler de aventura, com um romance de pano de fundo, que estava sendo anunciado desde o início do ano. Imperdível para os cinéfilos de plantão.

Vamos encontrar duas personalidades cabisbaixas na fila. Uma garota, que aparentava não ter mais de 20 anos, cabelos longos, lisos, tênis prata. Um rapaz, que devia ter 25 anos no máximo, com uma camisa xadrez...

... Ardilosos e loucos para saber a imagem do outro sem serem reconhecidos, Nélson e Janaína não cumpririam o acordo. Janaína, numa conversa com a irmã, decidiu que usaria calça jeans e baby-look pink com o tênis prata. Nélson, menos radical, resolveu usar uma camisa xadrez ao invés das calças.

Ai, ai... A fila anda, o momento chega, e a gente revê as oportunidades...
Nélson nota que sua vizinha de poltrona está muita calada e um tanto quanto... digamos... decepcionada. Era só o que faltava, outra pessoa no mesmo estado de espírito que ele. Bem, era preciso fazer algo para sair daquele humor. Perguntou a ela se estava contrariada no cinema e disse que não podia ficar daquele jeito com a expectativa de um dos melhores filmes do ano. Ela sorriu e disse que estava esperando alguém e esse alguém que ela esperava não apareceu.
Perguntou o nome dele — Nélson. Perguntou o dela – Janaína. Olharam-se de baixo a cima e riram... Muito!

Um conto sobre amizade

Aquele menino não entendia porque o senhor calvo, barrigudo, barba branca, ia todos os dias dar comida aos pombos – todos os dias – sempre na mesma hora da manhã.
Fazia frio naquele dia. Era outono... Uma manhã cinzenta. O menino foi ao parque, como de costume, de mãos dadas com a mãe. Não viu o senhor sentado no banco vermelho de madeira.
— Por que o vovô que parece Papai Noel não está aqui? – interrogou o garoto à mãe.
Ela, muito sorridente, respondeu que não podia saber. Era a primeira vez que também não via o senhor tão simpático de bochechas rosadas.
— Mas as pombinhas estão aqui! Elas precisam de comida! Quem vai jogar comidinha para elas? - interpelou o garoto. – Elas parecem tão tristes!!!
— Meu filho, por que não vai brincar? Olha lá seu coleguinha, está chegando para se balançar com você.
Saltitante, o garoto foi ao encontro de seu amiguinho. A mãe abriu o livro, leu as primeiras linhas da página. Mas a dúvida do filho rondava também a sua mente.
Fazia algumas semanas que ela e o filho iam àquele parquinho. O senhor que “parecia com papai Noel” e usava suspensórios fazia parte daquele cenário. Ela lembra de um dia que o filho brincava na gangorra, desequilibrou-se e caiu aos prantos na areia fofa. A mãe foi ao socorro do filho. Mas o susto não o deixava parar de chorar. Foi a primeira vez que o velhinho se aproximou deles, estendeu a mão oferecendo umas migalhas de pão. O garoto olhou com os olhos cheios d’água, interrogou com o olhar. Mas não exitou ao pegar as migalhas e jogar aos pombos.
E assim, todos os dias, a hora de ir ao parque era o encontro marcado com o senhor e os pássaros. Outro dia, o garoto se aproximou do velhinho e pediu colo. Prontamente teve o pedido atendido. E os dois passaram muito tempo, calados, dando comida às pombinhas.
Nesta manhã, por mais que o garoto estivesse entretido com seu amiguinho, parecia que a alegria não era a mesma. Realmente, a mãe notou que as pombinhas andavam por ali muito tristes, como que procurando aquele senhor.
No dia seguinte, logo na entrada do parque, o garoto soltou a mão da mãe e correu em direção ao banco vermelho do vovô. Decepcionou-se. Assim como ele, os pombos também estavam tristes. Mais um dia, o senhor não apareceu no parquinho.
Os dias seguintes impossibilitaram o encontro daqueles dois amigos. Quem passasse pela casa amarela, número 422, da Rua Almeida, veria o menino debruçado sobre a janela, olhando a chuva que caía impiedosamente. Parecia que ele fazia uma prece para que o tempo melhorasse e ele pudesse voltar ao parque.
Uma semana depois, o sol iluminou a manhã de um sábado. Alguns metros de distância do parque, o menino soltou a mão da mãe e correu em direção ao banco. Percorreu aquela distância com tanta expectativa que não sentiu o cansaço do longo percurso. A mãe já sabia o porquê de tanta ansiedade, porque o filho havia levantado da cama antes dela, porque o menino abriu um sorriso quando viu o dia ensolarado, porque pediu, quase implorando, para ir ao parquinho.
Quando chegou perto do banco, o garoto parou. A paisagem não era a mesma do último dia que tinha estado lá com a mãe. Os pássaros cantavam uma canção diferente naquele dia. E as pombinhas vieram recebê-lo como que para contarem que ele tinha voltado. O menino ficou cheio de tanta emoção e correu para o banco. Deu um abraço muito apertado naquele senhor que, entendendo a saudação, pediu desculpas pelo tempo que esteve afastado.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Tu?! Quem és tu?

Ou Meu encontro com a lagarta e com o gato de Cheshire
Sou jornalista. Entendo de contar histórias reais para informar e educar.. Até que já tentei gostar de filosofia... mas, sinceramente, deixo para os filósofos. Acredito em tudo que essa ciência preceitua, mas não tenho o hábito nem consigo entender tão profundamente as verdades dela.
Mas entendi muita coisa de filosofia depois que vivi experiências que me fizeram refletir e, aí, me aparece um Nietzsche ou um Sartre e eu penso: “Puxa, esse cara é um gênio!” Mas, só consigo reconhecer essa profundidade, depois que o aprendizado vivencial me assola.
Heidegger é da mesma leva desses homens que falei – filósofos existencialistas – que tiveram como cerne do seu pensamento o homem... “bicho da terra tão pequeno”... Simples? Nem tanto. Porque é o homem e o sentido da e na própria existência... “a dificílima dangerosíssima viagem de si a si mesmo”.
Para Martin Heidegger, o que interessava era o sentido do ser. O homem tinha duas opções: estar no mundo e ser dominado pelas regras da massa ou romper com essa condição do cotidiano e tomar as rédeas da própria existência. Daí, a necessidade, para ele, da problematização desse estar-no-mundo, gerando a angústia libertadora para o encontro com o seu verdadeiro ser-aí.
Acontece que isso não é nada fácil para quem está imerso nas demandas do dia a dia. Mas eu tive o meu insight fenomenológico – aquele que surge para uma consciência. Foi numa tarde de domingo assistindo a um desenho animado, considerado infantil, e que muitos admiram pelos questionamentos que ele traz à luz da consciência. Para mim, Alice no País das Maravilhas me vale por dois momentos importantes no enredo da menina dos seus 7 anos de idade que se perde num submundo “onírico”; momentos esses que passei a considerar cruciais para quem quer dar um salto no caminho da própria existência.
O primeiro deles é o diálogo com a lagarta – quando pergunta à Alice “quem és tu?” Para mim, não pareceu uma simples curiosidade de saber a identidade da menina. A insistência do questionamento parece querer levar Alice a refletir sobre ela própria para responder a si mesma. É tanto, que a menina titubeia, gagueja, fica enfurecida, dá as costas à lagarta e volta ao mesmo problema – está perdida.
Depois de passar por mais situações estranhas, momentos de solidão e tristeza, aparece o gato de Cheshire, cantarolando, com aquele sorriso largo. É dele que Alice espera a resposta à pergunta: “Gostaria de saber que caminho tomar?” E o gato, simplesmente, responde: “Isso depende do lugar aonde quer ir!” A menina diz que não importa, afinal, ela estava perdida! E o mestre gato diz: “Então, não importa que caminho tomar...” Fantástico!!! Fenomenal!
Esse encontro, esse suspiro profundo, arrebatador, extasiante e de tirar o fôlego, foi para mim, e exclusivamente para mim, de significado fenomenológico – abriu as portas da minha consciência para uma verdade que se confirma a cada dia: preciso saber quem sou, mas não um saber para responder a outro e sim um saber de ter a consciência de quem sou para saber onde quero chegar, daí tomar o caminho mais apropriado. Será que foi por isso que Lewis Carroll, o autor da obra que inspirou a animação de Walt Disney, colocou esses diálogos exatamente nesta ordem: primeiro a lagarta incita Alice a responder quem ela é depois o gato indica que caminho pegar? E todos levam a reflexão sobre serem essas respostas que cabem, unicamente, à própria personagem.
Bem, só sei que, Alice saiu daquele mundo depois de se ver as voltas com uma rainha louca que era dona de tudo naquele mundo e que queria, a todo custo, cortar-lhe a cabeça porque foi afrontada pela menina. Veja bem – os existencialistas diziam que era rompendo com as tradições – eufemismo para regras impostas pela sociedade – que o homem encontraria-se com o seu verdadeiro eu, sem máscaras, sem amarras. E que a morte, o fim inevitável, destino de todos, seria a principal razão para querer viver... E é na iminência da “morte” que Alice reencontra o caminho de volta ao lar – ela acorda do sonho.

domingo, 15 de maio de 2011

Voltas...

Querido blog! Desculpa aí! Crise para escrever... (nossa! dois anos...) Bem, aos poucos vou me redimindo. Muita coisa aconteceu nesse tempo. Saí de mim pra voltar mais consciente.

Para consertar... martelo!

Eu: ISADORA! Por que você bateu em mim? Que coisa feia! O que é que a gente faz pra consertar quando faz coisa feia?
Isadora (chorosa): Não sei... usa um martelo...

Ok... Pedido de desculpas subentendido e aceito! rs...